16/10/2009

Lírica

riram

atiraram-me pedras à alma
noite estagnada de lua cheia

pelo dorso da esperança rolaram-me todos os sonhos
que amealhava na redoma do medo

riram como sol nas vertentes do regresso
riram como chuva nas raízes sequiosas
riram como olhos no silêncio dum postigo
riram

riram de promessas onde os sonhos encalharam
e me engravidaram os olhos de angústia
e a esperança abortou nos contornos da raiva
onde os abutres bebem e se atordoam de silêncios

náufrago de sonhos e pesadelos
neste rio de promessas que sorvi
riram

foi na primavera dum desespero maldito
como estalido de dor em olhos baços

riram
e ficaram na sombra dos atalhos cá dentro
a germinar lírios de tortura

Sem comentários:

Enviar um comentário