era uma vez um menino
tinha os olhos da alma a saltar entre dois mundos
seu tio tinha livros    muitos      esgaravulhava neles como se andasse sempre em busca de qualquer coisa que nunca se tem       às vezes parecia que a alma dele era uma estátua a devorar o infinito     às vezes ria como quem não sabe rir
seu amigo carvoeiro saía de casa quando os galos acordavam os homens do campo e regressava à tardinha como se trouxesse o mundo no carro      cantando
seu tio olhava os campos e chorava poemas   
à noite    quando havia luar     tio carmo ficava encharcado
martinho carvoeiro não       o luar era o sol da noite     era como sentir a alma janela aberta      olhava as estrelas e acabava ressonando sobre os montes de feno
martinho carvoeiro ressonando
tio carmo roendo-se à procura de coisas que não o deixavam dormir
tio carmo está cansado    pensava o menino
o velhote punha-se de cócoras     agarrava os bracitos do menino e ficava olhando    como se espreitasse para o fundo de si mesmo
está triste     dizia o menino
o carvoeiro não      agarrava a criança levantando-a       sentava-a nas suas pernas    contava a história dos papões que não existem e levava-a para casa   num passo lento   e sussurando cantilenas sem sentido
era uma vez um menino  que não gostava dos livros e queria ser carvoeiro
30/09/2009
Vagabundo
rio e choro sem vontade
levado pelo destino
na minha mala a saudade
de quando era menino
rio e choro em segredo
num vendaval de sonhos
na minha mala o medo
e pesadelos medonhos
rio e choro como ave
que já não sabe voar
na minha mala sem chave
segredos por desvendar
rio e choro e canto assim
coruja vaiando a vida
como criança perdida
tremendo dentro de mim
Subscrever:
Comentários (Atom)
 
