12/04/2010

Não é poema nenhum


isto não é poema nenhum
é certamente um desabafo
entre mim e Cristo
aquele Jesus que alguns acusam de maluquinho por ter sido sempre
doido por cruzes
e que acabou numa
que não era nenhuma das que fazia na carpintaria do pai

mesmo depois de morto
continuamos amigos e falo ainda com ele

deve rir-se muito das coisas que lhe digo
sem nunca lhe mentir
quando me zango com ele
não me responde
não diz nada de jeito e continua na cruz com aquele ar de sofredor
e isso me chateia e ele sabe
por isso nem responde

gosta de mim como eu gosto dele
disso não tenho dúvidas

um dia trocou-me as voltas e eu
que o trazia sempre no bolso
acabei por largá-lo à porta duma igreja de Burgos
onde cortámos relações e
nunca mais nos entendemos

desabafo ainda com ele
e ri-se de mim e não liga nada ao que eu digo

as coisas que lhe conto e que ele sabe!

não lhe escondo nada porque sei que ele havia de rir

é por isso que continuamos amigos como sempre

mas sei que um dia ele há-de arrepender-se de eu o ter abandonado
e há-de abraçar-me
e rir muito de mim
porque ele sabe
que a culpa foi toda dele e ao fim de tantos anos
já não vai ressuscitar
e sabe Deus se lá estará
para acolher-me

*

4 comentários:

  1. O teu não-poema é tão lindo!
    jinhos

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  2. Não te preocupes! Ele conhece-te de ginjeira há uma eternidade...
    Aquele abraço!

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  3. Olá "comadre" ah! estás espreitando!...
    Beijinho

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  4. Olá Torquato!
    Eu sei que Ele me conhece de ginjeira e não me leva nada a mal!!!
    Amigos são assim!
    Um abraço

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